A importância da biodiversidade mineira no contexto brasileiro foi debatida nesta sexta-feira (25) durante o simpósio ‘Estado da Arte sobre o conhecimento da biodiversidade das áreas protegidas', dentro da programação do 2º Congresso Mineiro de Biodiversidade (Combio).
Segundo o professor Luís Fábio Silveira, da Universidade de São Paulo (USP), a biodiversidade mineira começou a ser impactada na descoberta dos minerais e das pedras preciosas, pela colonização e plantio de café na Zona da Mata e, posteriormente, pelo avanço da siderurgia como atividade econômica e o conseqüente desmatamento para produção de energia (carvão e hidrelétrica).
Silveira observa, no entanto, que os dados sobre a biodiversidade só começaram a ser conhecidos a partir do século 19, quando naturalistas independentes vieram para o Brasil e para Minas e registraram a degradação em algumas regiões. "Apesar dos estudos, esses conhecimentos nunca fizeram parte de uma política institucional", ressalta Silveira.
O professor enfatiza ainda que, mesmo durante o século 20, grandes áreas de Minas Gerais ainda eram inexploradas. "Ainda existe um potencial para geração de conhecimento sobre a biodiversidade mineira já que Minas é o estado menos estudado dentre os quatro da região Sudeste", afirma.
Fábio Silveira observa que Minas Gerais é o quarto maior estado do Brasil e o 2º mais populoso. Além disso, o Estado responde pelo 3º maior produto interno bruto (PIB) do país. "Isso é muito significativo, pois tem um reflexo expressivo na biodiversidade do Estado", frisa.
De acordo com Silveira, já foram identificados em Minas Gerais cerca de 220 espécies de anfíbios, 200 de répteis, 780 de aves e 250 de mamíferos. "Minas tem uma diversidade expressiva e precisa ser conservada", frisa. De acordo com a lista de espécies ameaçadas de extinção em Minas gerais, das 2,3 mil espécies avaliadas, cerca de 300 estão ameaçadas. "Minas possui uma parcela muito grande da biodiversidade, mas precisa de investimentos e principalmente de recursos humanos para pesquisar essa biodiversidade e acelerar o processo de conhecimento", finaliza.
Levantamento feito pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) registrou de 1992 a 2007, cerca de 1,6 mil projetos de pesquisas executas nas 176 Unidades de Conservação do Estado. O professor da Universidade de Goiás, Fabiano Rodrigues de Melo, propõe a celebração de Termos de Cooperação Técnica, entre o IEF e os pesquisadores como uma das alternativas para que as pesquisas aconteçam de forma sistêmica nas unidades de conservação. "Queremos contribuir e dar um aporte maior do conhecimento da biodiversidade, na tentativa de melhorar a conservação da biodiversidade em Minas Gerais", afirma.
Biodiversidade
Fabiano Rodrigues de Melo apresentou também um levantamento sobre as espécies de primatas estudadas nas unidades de conservação em Minas e a importância do trabalho para a criação de novas áreas de preservação. Das 394 espécies catalogadas no mundo, 110 estão no Brasil localizadas na Amazônia e na Floresta Atlântica. "No entanto, 26 espécies e subespécies estão ameaçadas de extinção pelo forte impacto sofrido pelos biomas onde vivem", ressalta.
O professor argumenta que o estudo dos primatas pode contribuir efetivamente para a criação de Unidades de Conservação. "Algumas unidades foram criadas especificamente para a preservação desses primatas, o que possibilita a proteção da biota", argumenta. Um dos exemplos é o Refúgio de Vida Silvestre Mata dos Muriquis, localizado no Nordeste de Minas Gerais, que abriga diversos indivíduos de muriqui.
Outra contribuição para o conhecimento e a preservação da biodiversidade em Minas foi o lançamento da terceira edição do Mapa da Cobertura da Vegetação Nativa do Estado de Minas Gerais. Durante a oficina, o professor e coordenador do estudo, José Roberto Scolforo, apresentou alguns dados sobre a diversidade da flora arbórea em Minas Gerais.
O Mapa, uma parceria do IEF e da Universidade Federal de Lavras (Ufla), indica as áreas de maior pressão sobre a cobertura vegetal. "O trabalho do inventário pode contribuir também com dados quantitativos para subsidiar a criação de Unidades de Conservação no Estado e o direcionamento de estudos nessas Unidades", destaca.
25/04/2008
Fonte: Sala de Imprensa
2º Congresso Mineiro de Biodiversidade